quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

199(9) – ODISSEIA NO AÇO!

Completa-se este mês a primeira década do Séc. XXI. Foram dez anos que já nos deram imensas coisas boas em distintos estilos de peso, além de que será aliciante conjecturar sobre o que os desconhecidos decénios seguintes nos possam brindar. E a década seguinte. E a outra. E em 2040, como será o metal? Não duvido que perdure porque na alma musical humana subsiste algo de mais orgânico e genuíno que qualquer “compositor”-robot de tecnologia padronizada ou correntes “criativas” corporativistas. Isso é conversa para o futuro, hoje importa aqui falar do passado.

Quando lançamos um olhar sobre os anos 80, uma toada de respeitável nostalgia se instaura. A década do verdadeiro espírito, dos grandes álbuns, do emergir de bandas e estilos que nesse período se glorificaram por si só. E se recuarmos à genialidade inebriada dos anos 70, esse respeito toma proporções de endeusamento. Já para não falar nos embrionários anos 60 e em patriarcas como Jimi Hendrix. Mas… e então, os nineties?! É que é “só” a década em que a escultura ganhou traços de requinte. Muitas das teses lançadas nos anos anteriores atingiram, neste período, o auge do seu primor, obra de uma geração muito esclarecida no modo como exorta sentimentos e labora instrumentos.

Do encantamento desesperado de uns Anathema, My Dying Bride, Sentenced ou Paradise Lost, à efervescente emergência do black metal escandinavo e de bandas como Darkthrone, Immortal, Mayhem (ou a facção mais melódica criada por Cradle Of Filth ou Dimmu Borgir), passando pela ânsia instigadora de uns Fear Factory, Pantera ou Machine Head, os anos 90 já se fazem de um indelével pedaço de história. Foi também na década transacta que floresceram importantes movimentos death metal; na Florida, pelas mãos de entidades referenciais como Morbid Angel ou Death, na Europa, através de uns visionários Carcass ou At The Gates. Injectou-se mais melodia e mais peso, e popularizaram-se nomes como In Flames, Dark Tranquillity ou Children Of Bodom. Enunciavam-se propostas avantgarde com Arcturus ou Opeth a induzirem ao metal uma dose de inteligível energia. Espaço e tempo também houve para o ressurgimento do heavy metal mais tradicional e do (re)nomeado power metal com o aparecimento de uns Hammerfall ou Nightwish. O stoner rock ou o doom reinventado dos Cathedral também trouxe à cena uma saudável brisa de vitalidade que, em última análise, chega até ao experimentalismo de uns Sunn 0))). No capítulo hard rock, é que a década não começou nada bem, vitimizado pelo aparecimento do grunge e da tomada de simpatias por parte de uns Nirvana ou Alice In Chains. Mas também aqui as hostes menos extremas se souberam reerguer fazendo da década transacta um período de aprazível desfrute para, praticamente, todas as tribos da civilização pesada.

Por vezes paira a ideia de que “agora é que é bom” ou “nos anos 80 é que está tudo”. Não esqueçamos, portanto, os memoráveis anos 90. Afinal, estão aqui tão perto. Dentro de dias, ainda antes de 2011, cá estaremos para vigilar o relógio do aço. Sem eufemismos.

3 comentários:

  1. Muito bem. Um capítulo que merecia um maior desenvolvimento. Teve mais altos e baixos que a de 80, pelo menos assim me parece.

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  2. Muito boa perspectiva. Continuo a manter que em todas as décadas há preciosidades musicais de valor incalculável. A preferência pessoal poderá recair por uma ou outra - sem beliscar de todo a importância capital dos 80s, a verdade é que muito do valor acrescido que se lhes dá, muitas vezes até em detrimento e escárnio das outras décadas à volta, tem bastante de geracional - mas há sempre génios à solta. You just have to know where to look.

    Não sei como será o metal em 2040, mas se calhar nessa altura muitos olharão até para os 00s com a reverência que nós empregamos agora para o que está 30 anos atrás de nós.

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  3. Precisamente. Terá que haver aquele distanciamento para que estes contextos sejam devidamente digeridos. Não acho, por exemplo, muito estimulante analisar ou sintetizar já o melhor dos 00s deste milénio, porque as ondas de choque do que é mais influente ainda se vão fazer sentir por mais algum tempo e devido a um tricky paradoxo: a última década está tão próxima que nem nos lembramos do que é mais importante. ;)

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