sábado, 23 de outubro de 2010

TP I: WATCHTOWER - Control And Resistance

Antes de o metal progressivo ser comummente tido como tal, existiam movimentações artísticas que participaram nas fundações daquilo que hoje é consumido como música complexa no espectro do som pesado; aquilo que sugeria, na altura, sub-denominações ao metal técnico, se quisermos. Entre esses títulos epitomais de uma urgência tão latente (assim como hoje) em purgar experimentação através de escalas pouco ou nada usuais e, ainda menos, imediatas está «Control And Resistance», o segundo álbum dos norte-americanos Watchtower.

Na base da criação do quarteto do Texas estavam, afinal, as mesmas influências de inúmeras bandas que, na década de ’80, viam um enorme desafio na convergência de dois vectores principais: a força proveniente da NWOBHM com o adorno de sagacidade motivado por discos de Rush ou King Crimson. Claro que a emergente cena thrash metal injectou adicionais doses de energia aos "revolucionários" da altura e é esse pote de talento que começa por fervilhar em 1985 para os Watchtower, na estreia «Energetic Disassembly». No entanto, o registo referencial do grupo de Austin é o consequente (e último, até ao momento), até porque comporta mais quatro anos de experiência acumulada. Período, de resto, marcado por alguma instabilidade interna que lhes viria a alterar metade da formação antes da gravação de «Control And Resistance». Nada que tenha feito perigar a excelência desta aposta da germânica Noise, depois de um primeiro disco lançado em nome próprio. Ainda que Alan Tecchio, o vocalista, só tenha conhecido os restantes companheiros poucos meses antes...

Os carismáticos agudos daquele que hoje encarna outros dois regressos – Non-Fiction e Hades – estão universalmente ligados à excelência do legado Watchtower mas, a verdade, é que Tecchio pouco tempo se manteve na banda, cujo microfone do passado (e do futuro) pertence a Jason McMaster. Falamos de uma banda que é predominantemente reconhecida pelos seus dotes instrumentais mas, também nesse departamento, o segundo LP é uma manifestação de alteza vocal. Rick Colaluca e Doug Keyser compõem a incólume secção rítmica dos Watchtower, garantia do superior grau técnico desta entidade que, no segundo trabalho, absorve os talentos de um guitarrista como Ron Jarzombek. Nos anos subsequentes foi o membro mais activo, erguendo projectos como Gordian Knot, Blotted Science e, sobretudo, Spastik Ink, que em certa medida, pegou nesta fase de Watchtower.

Hoje, a banda está de volta com o vocalista original e «Mathematics» é álbum na calha para este ano. Razões de celebração, tratando-se de um daqueles nomes ainda nestes dias recordado (ou descoberto) por muito boa gente que se sente impulsionada a criar melodias de peso intrincado e no qual assenta com toda a propriedade aquele chavão de terem estado "à frente, no seu tempo". Foi por isso que, este mês, recuámos mais de vinte anos para encontrarmos estruturas que não estão assim tão deslocadas da ambiciosa produção presente como os agressivos contra-tempos de «Mayday In Kiev» ou a secção intermédia de «The Fall Of Reson». Ao longo de todo o disco, o slap de Keyser rubrica uma das mais-valias dos Watchtower como grupo anti-banal que, a par dos riffs alienígenas de Jarzombek, dão uma pequena ideia do organizado caos que o colectivo instaura nestes 43 minutos de magnificência. E porque as letras não são aqui simples guias literárias para um fim técnico, há muita consciência política e até intervenção nos textos de «Control And Resistance» como, desde logo, o tema inicial «Instruments Of Random Murder» bem ilustra.

Complexo, mas suficientemente atractivo para se ter tornado num dos álbuns mais influentes do género. Ainda que muitos nem dêem conta disso.