sábado, 18 de dezembro de 2010

2010

A recorrente dicotomia "os melhores" vs. "os que mais gosto". O resultado desse pacífico confronto este ano dá qualquer coisa como isto.


1 – ENSLAVED – Axioma Ethica Odini
2 – SHINING – Blackjazz
3 – ORPHANED LAND – The Never Ending Way Of The ORwarriOR
4 – HIGH ON FIRE – Snakes For The Divine
5 – ANATHEMA – We're Here Because We're Here
6 – IHSAHN – After
7 – FLESHWROUGHT – Dementia/Dyslexia
8 – INTRONAUT – Valley Of Smoke
9 – TRIPTYKON – Eparistera Daimones
10 – DEFTONES – Diamond Eyes
11 – HELSTAR – Glory Of Chaos
12 – BLACK COUNTRY COMMUNION – Black Country
13 – KILLING JOKE – Absolute Dissent
14 – ROTTING CHRIST – Aealo
15 – OVERKILL – Ironbound
16 – FORBIDDEN – Omega Wave
17 – SOLUTION .45 – For Aeons Past
18 – GHOST – Opus Eponymous
19 – ZOROASTER – Matador
20 – SLOUGH FEG – The Animal Spirit

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

199(9) – ODISSEIA NO AÇO!

Completa-se este mês a primeira década do Séc. XXI. Foram dez anos que já nos deram imensas coisas boas em distintos estilos de peso, além de que será aliciante conjecturar sobre o que os desconhecidos decénios seguintes nos possam brindar. E a década seguinte. E a outra. E em 2040, como será o metal? Não duvido que perdure porque na alma musical humana subsiste algo de mais orgânico e genuíno que qualquer “compositor”-robot de tecnologia padronizada ou correntes “criativas” corporativistas. Isso é conversa para o futuro, hoje importa aqui falar do passado.

Quando lançamos um olhar sobre os anos 80, uma toada de respeitável nostalgia se instaura. A década do verdadeiro espírito, dos grandes álbuns, do emergir de bandas e estilos que nesse período se glorificaram por si só. E se recuarmos à genialidade inebriada dos anos 70, esse respeito toma proporções de endeusamento. Já para não falar nos embrionários anos 60 e em patriarcas como Jimi Hendrix. Mas… e então, os nineties?! É que é “só” a década em que a escultura ganhou traços de requinte. Muitas das teses lançadas nos anos anteriores atingiram, neste período, o auge do seu primor, obra de uma geração muito esclarecida no modo como exorta sentimentos e labora instrumentos.

Do encantamento desesperado de uns Anathema, My Dying Bride, Sentenced ou Paradise Lost, à efervescente emergência do black metal escandinavo e de bandas como Darkthrone, Immortal, Mayhem (ou a facção mais melódica criada por Cradle Of Filth ou Dimmu Borgir), passando pela ânsia instigadora de uns Fear Factory, Pantera ou Machine Head, os anos 90 já se fazem de um indelével pedaço de história. Foi também na década transacta que floresceram importantes movimentos death metal; na Florida, pelas mãos de entidades referenciais como Morbid Angel ou Death, na Europa, através de uns visionários Carcass ou At The Gates. Injectou-se mais melodia e mais peso, e popularizaram-se nomes como In Flames, Dark Tranquillity ou Children Of Bodom. Enunciavam-se propostas avantgarde com Arcturus ou Opeth a induzirem ao metal uma dose de inteligível energia. Espaço e tempo também houve para o ressurgimento do heavy metal mais tradicional e do (re)nomeado power metal com o aparecimento de uns Hammerfall ou Nightwish. O stoner rock ou o doom reinventado dos Cathedral também trouxe à cena uma saudável brisa de vitalidade que, em última análise, chega até ao experimentalismo de uns Sunn 0))). No capítulo hard rock, é que a década não começou nada bem, vitimizado pelo aparecimento do grunge e da tomada de simpatias por parte de uns Nirvana ou Alice In Chains. Mas também aqui as hostes menos extremas se souberam reerguer fazendo da década transacta um período de aprazível desfrute para, praticamente, todas as tribos da civilização pesada.

Por vezes paira a ideia de que “agora é que é bom” ou “nos anos 80 é que está tudo”. Não esqueçamos, portanto, os memoráveis anos 90. Afinal, estão aqui tão perto. Dentro de dias, ainda antes de 2011, cá estaremos para vigilar o relógio do aço. Sem eufemismos.

TP IV: BELIEVER - Dimensions

Muitas vezes, exasperamos pelas razões que levam determinada banda a cessar funções. É-nos difícil aceitar que tenham findado após “aquele álbum” excepcional, quase perfeito. É precisamente na obtenção desse máximo desígnio musical que reside o fim de operações; já não há estímulo para ir mais além.

Poucos meses após o lançamento de “Dimensions”, os norte-americanos Believer compreenderam que não haveria muito mais caminho a trilhar no seu thrash progressivo, de ramificações clássicas e pioneirismo operático no metal. São múltiplas e distintas as variações estilísticas deste terceiro álbum do grupo, mas só uma audição no seu todo fornecerá uma ideia da singularidade deste trabalho no espectro musical, inclusive na própria discografia dos Believer. A banda da Pensilvânia começou por se notabilizar na estreia de 1989, “Extract From Reality”, ao sugerir outras dimensões ao thrash da Bay Area, roçando laivos de death metal e arriscando tecnicismos pouco comuns na altura, mas é com “Sanity Obscure” que dá nas vistas, a sério. Três anos depois, “Dimensions” surge como um álbum à parte. A raiz thrash fundamenta a base criativa destes 52 minutos, mas sobre ela assentam muitas camadas que nada têm a ver com o estilo e que, em conjunto, perfazem aquele composto especial que forte impacto causou na altura (nem tanto assim, senão não seria um Tesourinho) e que, quinze anos depois, se mantém proeminente.

A verdadeira pérola deste trabalho está em “Trilogy Of Knowledge”, uma sequência de quatro peças em vinte minutos, num exercício de música erudita com metal, pouco visto até aos dias de hoje. Os instrumentos de cordas operam num registo minimal/progressivo de notável envolvência, imiscuídos da sedutora soprano que é Julianne Laird, bem antes de todos os Nightwishs que se seguiram. Em mágica sobreposição, a voz ríspida de Kurt Bachman, uma espécie de John Tardy mais ligeiro, a assentar que nem uma luva e de belo efeito aestético. O guitarrista/vocalista é a alma dos Believer, mas neste disco em que funcionaram como trio, não esquecer a notável bateria de Joey Daub e, mais ainda, o providencial baixo tocado por Jim Winters. A intro e os três movimentos da “Trilogy Of Knowledge” constituem apenas a parte finaldo álbum, que principia com um sinistro “Gone” e que tem pelo meio a serenidade pulsante de “Dimentia” e o thrash metal (quase) puro de “Singularity”. Quanto à filiação religiosa da banda, não é nada que importe muito para o fascínio artístico aqui obtido. Se a trilogia de fecho versa sobre a história de Cristo, outras letras há por aqui que evocam filósofos como Sartre ou Freud, sendo o álbum um ensaio sobre o modo como a ciência tomou conta do mundo.

Pela própria abertura estilística na música que concebem, os Believer serão uns crentes não dogmáticos e estranho não será o facto de Bachman ter hoje como via profissional a bio-medicina. Explorando igualmente estados de mente mais ou menos senis, este álbum surge salpicado de soundbytes de filmes como “O Exorcista III” ou “Hellraiser II” que, a par de outros sons samplados pela banda em estúdio, gera um efeito psicótico... quanto mais não seja, pela obsessão de o voltarmos a ouvir mais uma vez. E mais uma vez. As harmonias de guitarras também são qualquer coisa de magistral, guiando as estruturas próprias deste álbum para direcções de imprevisível deleite. Apesar de ainda algo obscuro, este álbum foi recentemente reeditado e os Believer tiveram a bela ideia de reunir a banda para o álbum «Gabriel», lançado em 2009. Razões mais que propensas para que, quem não as conhece, entre nestas dimensões. Acreditem.