(reportagem de concerto ocorrido em Dezembro, mas como não teve anterior publicação em qualquer output, aqui fica).
Numa fria tarde de domingo. Circunstâncias, à partida, ameaçadoras para um concerto que não tinha nomes massificados em cartaz, mas talvez seja justamente essa a motivação que levou mais de uma centena de headbangers a esta sala de Lisboa para verem três bandas de heavy metal, com destaque natural para os suecos que se estreavam em Portugal e já com alguns seguidores por cá. Com uma hora de atraso, a matinée Tyranny Over Iberia começou com os riffs dos Ravensire, quarteto nacional que acaba de lançar o EP «Iron Will» e que se viu aqui privado do vocalista que o gravou. A rapariga que o substituiu fez o que pôde em temas como «Facing The Wind» e na versão de «Battle Cry», original dos Omen, mas o grupo de Lisboa não disfarçou algum nervosismo nesta actuação em particular. Nota positiva, ainda assim.
Surpreendentes foram, de facto, os Steel Horse que viajaram
desde Madrid para assinarem ali uma potente demonstração de melodia
e comunicação com o público. «In The Storm» e «Wild Power»
foram os álbuns onde se apoiaram, com o tema título deste, no
final, a sublinhar a aptidão de nuestros hermanos para
escreverem bons refrões e os presentearem ao vivo com eficácia.
Jorge Cortéz é um óptimo vocalista e teve oportunidade de o
demonstrar na versão bem recebida de «Phantom Of The Opera» dos Iron Maiden.
Quanto aos RAM, entraram com toda a
força através de «Defiant» e «Flame Of The Tyrants», dois dos
melhores temas do último álbum «Death» que, ainda assim, deixou
muito espaço para que os dois primeiros trabalhos dos suecos
ecoassem bem alto por ali. Para contentamento dos fãs, que parecem
ter na estreia «Forced Entry» as suas perdilecções, daí que
malhas como «Sudden Impact» e «Infuriator» tenham sido acolhidas
com muita excitação e algum crowd surf. A atitude e a crença
com que uma banda como RAM se apresenta em palco é de quem está a
viver com alma o que faz e o transmite com facilidade para uma
audiência que já estava receptiva. Oscar Carlquist é bom vocalista
e Harry Granroth, a trave instrumental que suporta uma potente parede
de som e ainda nos dá um punhado de belos solos. Perto do final,
houve tempo para alguma interacção com o público a meio de «Forced
Entry» numa tarde/noite em que todos ficaram a ganhar, menos os que
gostam de heavy metal e ficaram em casa. É que, num mundo normal,
uma banda como RAM seria mais reconhecida.
Texto: Nelson S.
Foto: João Moura/Metal Pictures