sexta-feira, 12 de novembro de 2010

TP II: CORONER - No More Color

As recentes notícias em torno desta importante banda suíça exercem quase uma relação causa/efeito para voltarmos e descobrir a sua discografia. Os Coroner têm um concerto de reunião agendado para o Hellfest 2011 e o guitarrista Tommy Vetterli não descarta a gravação de algo no futuro o que, só por si, já pede que vasculhemos por aqui, a nossa arca de tesourinhos. Não fosse esta a tal importante banda, mas algo underrated porque o seu status não é hoje totalmente consentâneo com o valor dos seus trabalhos, nem com a influência que incidiram a correntes subsequentes, mesmo sem se ter dado por isso.

Falamos daquilo a que começou por se chamar thrash metal técnico, mas cujas ramificações extremas e progressivas são bastas e, cada trabalho do trio, comporta múltiplos pólos de interesse. «No More Color» é o disco que talvez os condense como banda, uma vez que é neste terceiro longa-duração que elevam ao nível de classe, a chama underground que mantiveram durante «R.I.P.» e «Punishment For Decadence», induzindo-lhe uma inteligência experimental, inequivocamente, avançada para a época. Claro que o seguinte «Mental Vortex», com superior produção e maturação de ideias, talvez seja o verdadeiro work of art do som Coroner, mas é neste momento de 1989 que se denota melhor o odor a génio genuíno, se quisermos.

O ritmo tribal e riff com que «Die By My Hand» principia é arrepiante (ou é mais agora, por se escutar duas décadas depois), assim como o primeiro dos hipnóticos solos de Tommy T. Baron (Vetterli, mais tarde, nos Kreator) neste álbum. Falamos de uma altura em que os músicos vincavam individualidade e, reduzida a três elementos, dá para adivinhar o impacto de cada um nestes 35 minutos. O guitarrista é, comummente, distinguido como a personna principal dos Coroner, mas o facto é que o frontman Ron Royce também revela imenso carisma e tem a cargo dois papéis muito bem desempenhados neste registo: como vocalista e como exímio baixista. Na verdade, até lembra um pouco a imagem (e voz, a espaços) de Tom G. Warrior, não houvesse aqui uma certa ligação aos Celtic Frost. Alguns membros dos Coroner começaram por ser roadies da vizinha banda de Zurique e Tom foi mesmo o vocalista na demo-tape de estreia «Death Cult» sem, no entanto, ter feito parte da banda. Podemos aqui observar que ambos os grupos não estão assim tão distantes num tema como «Mistress Of Deception», embora cedo o trio de T. Baron/Royce/Marquis Marky tenha desenvolvido uma veia própria de thrash obscuro.

«No More Color» foi o álbum que trouxe outras cores à banda que já detinha alguma reputação na altura; só assim poderia surgir uma peça como «Last Entertainment», um sublime fecho de álbum que ainda hoje deve (ou devia) figurar entre os instrumentais mais extraordinários do mundo metal. Antes disso, somos intoxicados pelo inebriante andamento thrash metal de «Why It Hurts» ou podemos render-nos completamente aos encantos de «Read My Scars», incluindo mais um notável exercício de Tommy Vetterli. Sem referência particular não pode ficar ainda uma faixa como «No Need To Be Human», um daqueles refrões cuja atractividade está, justamente, na sua rudeza. Um must de final dos anos ’80.

Durante os seus dez anos de existência, os Coroner deixaram marca pelo período de muita criatividade concentrada, ao longo de seis álbuns de qualidade, isto se não contarmos com «Coroner» de 1996 que foi uma colecção de temas novos com antigos e algumas remisturas. Pelos vistos, o veredicto do médico legista não é absoluto, o que nos deixa a palpitar por futuras actuações e eventual música nova do trio de Zurique. Até lá, há que redescobrir esta pérola.

Sem comentários:

Enviar um comentário